Escola Secundária da Moita (Moita)
Idade dos alunos:
17 aos 18 anos
Memória descritiva:
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto Eco-Escolas, “Muros com Vida”, e nas disciplinas de Biologia e de Desenho e Oficina de Artes, sendo importante referir que este projeto nasceu da vontade dos alunos em deixar o Mundo, a Escola (a consciência da comunidade escolar) um bocadinho melhor do que quando a encontraram.
Desta forma, a grupo do curso de Ciências e Tecnologias da turma 12ºA1 da Escola Secundária da Moita trabalhou com a turma de Artes, o 12ºB1, para o desenvolvimento da pintura de um mural, numa parede algo insípida junto a um canteiro que também está a ser recuperado. O mural retrata os elementos estuarinos da Zona Ribeirinha da Moita.
Após a saída de campo, realizada em contexto escolar com diversas turmas do nosso Agrupamento, no passado dia 4 de fevereiro de 2022 ao Sítio das Marinhas e Praia do Rosário, foi realizado o levantamento de observações e informações, estas dadas por parte das pessoas competentes que estavam presentes tais como a professora Dina Dias, a bióloga da Câmara Municipal da Moita (Paula Silva) e um ornitólogo (Mário Carmo).
Para além da saída de campo, estes grupos tiveram ainda a oportunidade de recolher informações fulcrais para a descrição dos elementos presentes no trabalho numa palestra na Escola, dada pela representante da SPEA, e através da pesquisa bibliográfica.
Alguns grupos de trabalho na saída de campo recolheram lixo de plástico e beatas e com esse material fizeram esculturas de um flamingo, um ninho com ovos de aves, um pisco-de-peito-ruivo e uma garça-branca.
Após o desenho de campo individual dos alunos de Artes, realizado na saída, foram trabalhadas várias técnicas de desenho e pintura, e apresentadas diversas propostas em diferentes suportes, com o acompanhamento da respetiva docente, a professora Paula Martins.
A elaboração artística final é semi-realista, contando com cores naturais mas algo chamativas, de forma a retratar de maneira única e especial a harmonia e complexidade, características dos ecossistemas estuarianos. Assim sendo, foi representada de forma simbólica, toda a Biodiversidade do Estuário do Tejo, mais concretamente as mais emblemáticas para a população em geral no nosso concelho (a Moita). Estão ali presentes elementos, tais como, os Flamingos (Phoenicopterus roseus), cardumes de Sargo-legítimo (D. sargus) e o Charroco (Halobatrachus didactylus) e a Salicórnia (Salicornia ramosíssima). Todos os elementos estão bem visíveis dada a genialidade na escolha das cores e ao semi-realismo muito bem pincelado.
Trabalho final:
Elaboração e evolução da pintura:
Qual o Ecossistema representado?
Nas margens do estuário do Tejo, ao sabor do vai e vem da maré, desenvolve-se o sapal, habitat rico em poliquetas, moluscos e crustáceos. O estuário do Tejo constitui um berçário para várias espécies de peixes marinhos, caso do linguado-legítimo (Solea solea) e do robalo (Dicentrarchus labrax), sendo também uma zona de transição entre o meio marinho e o fluvial para peixes migradores, como a lampreia-de-mar (Petromyzon marinus), a lampreia-de-rio (Lampetra fluviatilis), a savelha (Alosa fallax) e a enguia-europeia (Anguilla anguilla).
No entanto, são as aves aquáticas que conferem ao estuário do Tejo uma importância europeia, dado que os efetivos de espécies invernantes chegam a atingir cerca de 120.000 indivíduos na Reserva Natural. Destacam-se os anatídeos (vulgo patos) e os limícolas (que buscam o alimento nos sedimentos), com destaque para o símbolo da reserva, o alfaiate (Recurvirostra avosetta). De mencionar, ainda, a presença significativa de muitas outras espécies, nomeadamente o flamingo (Phoenicopterus roseus), o ganso-bravo (Anser anser) e o pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina).
A peculiaridade de um estuário consiste na mistura de águas, doce e salgada. O ambiente de estuário e sapal figura entre os mais produtivos da Terra, criando, a cada ano, mais matéria orgânica que áreas, comparáveis em tamanho, de bosques, prados ou terras agrícolas.
Retenção de poluentes:
A água drenada das terras rio acima traz sedimentos, nutrientes e também poluentes que são filtrados à medida que a água flui por eles. Este processo de filtragem possibilita a retenção de metais pesados, a acumulação de carbono e outros poluentes, produzindo água mais clara e limpa, o que beneficia tanto as pessoas quanto a vida marinha.
Benefícios culturais e económicos:
Entre os benefícios culturais estão a recreação, o conhecimento científico, a educação e o valor estético. Navegação, pesca, natação e observação de pássaros são apenas algumas das numerosas atividades recreativas que os cidadãos podem desfrutar nos estuários.
Importância biológica:
Os estuários são críticos para a sobrevivência de muitas espécies. São o habitat de espécies halófitas. Milhares de pássaros, mamíferos, peixes e outros tipos de vida silvestre dependem deles para viver, alimentar-se e reproduzir-se.
Berçário: Os estuários são pontos ideais para as aves migratórias descansarem e reabastecerem-se, durante as suas jornadas. Muitas espécies de peixes e crustáceos dependem dessas águas, como lugares seguros para reproduzirem-se, daí o nome dado aos estuários de "berço marinho". Centenas de organismos marinhos, incluindo peixes de alto valor comercial, dependem dos estuários em algum estágio de seu desenvolvimento.
“Amortecedor”: A vegetação das terras húmidas também atua como amortecedor natural entre a terra e o oceano, absorvendo as inundações e dissipando as ondas. Isto protege os organismos terrestres, assim como as propriedades, de tempestades e danos por inundações. A vegetação dos estuários também ajuda a prevenir a erosão e a estabilizar as costas.
Laboratórios: Como zonas de transição entre água e terra, são laboratórios de valor incalculável para cientistas e estudantes, oferecendo inúmeras lições de biologia, geologia, química, física, história e outros aspetos sociais.
Proteção: A economia de muitas áreas costeiras está baseada principalmente na beleza natural dos estuários. Quando estes recursos estão em perigo, assim também a subsistência das pessoas que trabalham e vivem ali. À medida que a população cresce, a demanda por recursos naturais também cresce. Daí a importância de se protegerem estes recursos com todo seu valor natural, económico e estético.
Estabilizador climático: O estuário é um sumidouro de carbono, como resultado da grande produtividade de biomassa das plantas e pela decomposição lenta da matéria orgânica morta, contribuindo por isso para a diminuição do efeito de estufa, sendo assim um regulador do clima ao nível planetário.
O Sítio das Marinhas, criado pelo Município a partir de uma antiga salina recuperada, funciona como Centro de Interpretação Ambiental, dispondo de uma exposição interior e de um circuito exterior com placas interpretativas do espaço, contendo indicações, gravuras e imagens acerca das marinhas no contexto da história e património locais e no âmbito do património natural do Estuário do Tejo.
Que Espécies estão representadas na pintura?
1. Salicornia ramosíssima:
Descrição: Planta halófita da família Chenopodiaceae que se alimenta através da fotossíntese. É uma planta terófita, anual ou bianual, ereta por vezes prostrada de 10 a 40 cm de altura, sem pelos, com raiz delgada, tem cor verde escura, por vezes amarelada ou mesmo em tons vermelho púrpura. O caule é ereto, translúcido, articulado, carnudo, bem ramificado e aparentemente sem folhas. No entanto, tem folhas opostas, soldadas entre si e com o talo formando um artículo carnudo. As flores são quase invisíveis, verdes, com anteras amarelas, e geralmente solitárias ou em grupos de três.
A sua capacidade de adaptação aos ambientes salinos está relacionada com a presença de carregadores de água, iões de amónio, entre outros, que desempenham um papel fundamental na proteção contra a desidratação em concentrações elevadas de sal. É cada vez mais apreciada pelos consumidores, conhecida por "sal verde" ou "espargo do mar", a salicórnia pode ser um ótimo substituto do sal. Está adaptada aos ambientes salinos, suportando a imersão por água salgada. Apresenta um elevado teor de sais e é rica em proteínas.
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: Angiospérmicas
Clado: Eudicotiledóneas
Ordem: Caryophyllales
Família: Chenopodiaceae
Género: Salicornia
Espécie: S. ramosissima
Distribuição: Distribui-se por todo o litoral costeiro desde o Oeste da Europa, ao Noroeste de África, desenvolve-se preferencialmente em pântanos, sapais salgados ou salinas temporariamente alagadas. É autóctone em Portugal e encontra-se disseminada por todo o litoral continental, sendo habitual nas áreas estuarinas e sapais.
2. Charroco (Halobatrachus didactylus)
Descrição: Peixe da família Batrachoididae. É uma espécie bentónica que vive em águas pouco profundas e que se alimenta, maioritariamente, de crustáceos, moluscos e pequenos peixes.
Tem o corpo robusto. A sua cor é acastanhada salpicada com várias manchas mais escuras de formas e tamanhos diferentes, formando bandas transversais irregulares ao longo do corpo. Exibe pele nua, sem escamas, e coberto de muco. Pode atingir entre até 60 cm de comprimento. Apresenta a cabeça larga e achatada, com uma boca larga e dois pequenos olhos no topo da cabeça. Durante a época de reprodução, os charrocos macho fazem ninhos próximos uns dos outros e emitem sons, produzidos na bexiga natatória, que são utilizados para atrair as fêmeas para os seus ninhos, que se situam em águas pouco profundas.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Osteichthyes
Subclasse: Actinopterygii
Ordem: Batrachoidiformes
Família: Batrachoididae
Género: Halobatrachus
Espécie: H. didactylus
Estatuto de conservação: LC- Pouco preocupante
As maiores ameaças são os barcos a motor. Um estudo recente provou que os barulhos dos barcos a motor podem fazer com que os charrocos se desorientem durante a época de acasalamento, uma vez que os sons dos machos são abafados pelos barulhos dos barcos, sobretudo em águas pouco profundas.
Distribuição: Atlântico este, desde o Golfo da Biscaia, a norte, até ao Gana, a sul. Em Portugal, pode ser encontrado em toda a costa oceânica.
3. Sargo-legítimo (D. sargus)
Descrição: Corpo oval, elevado e comprimido dorso-ventralmente, com a boca ligeiramente protáctil permitindo a distensão anterior dos maxilares no momento de ingestão da presa, com comprimento em geral 20–30 cm, com uma média de 22 cm. Alguns indivíduos atingem 45 cm de comprimento. A cor dominante é o prateado e, para além de uma mancha no pedúnculo caudal, apresenta faixas verticais escuras, mesmo nos maiores indivíduos.
Habitat: O sargo-legítimo é um peixe tipicamente costeiro de zonas rochosas, que habita até aos 50 metros de profundidade. É muito ativo e é frequente encontrá-lo na zona de rebentação durante a madrugada.
Alimentação: Crustáceos, moluscos, salpas, algas, poliquetas e equinodermes.
Reprodução: O período de reprodução coincide com o final do inverno e a primavera (no caso de D. sargus cadenati nos Açores ocorre entre Março e Junho). A espécie é hermafrodita protândrica, com os indivíduos atingindo a maturidade sexual como machos, com alguns indivíduos mutando para fêmeas num período de vida posterior.
Estatuto de conservação LC-Pouco preocupante
Curiosidades: O sargo-legítimo é uma espécie hermafrodita, pelo que os machos podem converter-se em fêmeas quando o número destas é reduzido, contribuindo, assim, para o sucesso reprodutivo. Usam o estuário como viveiro, encontrando-se aqui também adultos. A partir de 1997 assistiu-se à chegada do sargo-do-Senegal, cuja distribuição se foi alargando desde Cádiz. (Sul de Espanha) e que hoje é abundante no estuário. Sendo uma espécie de águas mais quentes, alargou a sua distribuição até ao Tejo devido ao aumento de temperatura
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Actinopterygii
Ordem: Perciformes
Família: Sparidae
Género: Diplodus
Espécie: D. sargus
4. Flamingo (Phoenicopterus roseus)
Nome comum; Flamingo
Nome científico: Phoenicopterus roseus
Comprimento da ave, desde a ponta do bico à ponta da cauda:120-145 cm
Envergadura, distância entre as extremidades das asas, quando abertas:140-170 cm
Peso: 1,9 a 3 kg
Fenologia da espécie no Estuário do Tejo: Visitante comum ao longo do ciclo anual
Estatuto de Conservação VU-Vulnerável
Abrigos: Um par de flamingos constrói um ninho, geralmente feito de lama e outros materiais, numa ilha ou na costa de um lago. O monte de lama é endurecido pelo sol e tem um centro côncavo para um único ovo.
Reprodução: Põe apenas um ovo (às vezes, no chão), grande, de cor branca e com casca dura. Depois de 28 dias de incubação nasce o filhote. Nos primeiros meses ele apresenta uma coloração cinza e branca, pelo que só atinge a maturidade da sua plumagem aos 3 anos de idade.
Alimentação: Consiste em pequenos crustáceos, peixes e bivalves, os quais procura nas zonas onde a água tem pouca profundidade e nas zonas de lama ou sapais
Curiosidades: Alimenta-se, descansa e reproduz-se em grupos de tamanhos variáveis, frequentemente grandes, embora alguns indivíduos vagueiem solitários. Voo rápido e direto, com batidas firmes de asas, com o pescoço e pernas esticadas. A forma e o tamanho do bico funcionam como uma bomba e ao mesmo tempo um filtro da água que é sugada juntamente com o alimento.Os flamingos maiores são poligínicos, o que significa que podem mudar de companheiro ao longo dos anos; Estes mantêm os seus filhotes juntos em creches.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Phoenicopteriformes
Família: Phoenicopteridae
Género: Phoenicopterus
Espécie: P. roseus
Materiais utilizados na pintura:
A primeira etapa foi a realização de esboços das espécies e da paisagem, inicialmente na saída de campo, e depois na sala de aula. Recorreram-se a diferentes materiais: aguarelas, lápis de cor, lápis de carvão, desenho digital, etc.
Na parede foram utilizadas tintas de água/acrílicas para o exterior. A pintura foi feita com pincéis e trinchas. Apenas foi usado o rolo para aplicar um primário e nas grandes áreas de cor dado que a parede tem 14 x 4 metros. A passagem do projeto eleito para a parede foi feita com recurso a ampliação à escala de cada elemento, primeiro em papel, que após recorte serviu para fazer o contorno. Foi utilizado um andaime cedido pela Câmara Municipal/Junta de Freguesia da Moita, montado e desmontado a cada sessão de pintura, imposto por motivo de segurança.
Se respondeu sim, explique como foi o envolvimento do Município:
A Câmara Municipal da Moita foi importantíssima para a concretização do projeto, através da Divisão de Ambiente e Salubridade Urbana. Forneceram as tintas, pincéis, luvas necessários à realização da pintura. Estiveram envolvidos desde a ideia inicial, apoiando e valorizando as sucessivas decisões que fomos tomando. Na prática estivem também diretamente envolvidos na saída de campo ao Sítio das Marinhas, que está representado no Mural, pelo acompanhamento técnico-científico aos alunos de 5.º, 8.º e 12.º anos participantes. Por fim, a Junta de Freguesia da Moita também nos ajudou, nomeadamente pela cedência dos andaimes.